1- Introdução
Para garantir o funcionamento de toda a máquina pública, o Estado conta com duas maneiras distintas de arrecadação de verbas. A primeira e principal delas se trata da cobrança de impostos diretos e indiretos, método que, desde 2012, ultrapassa todos os anos a marca de um trilhão de reais arrecadados.
Além dos impostos, o Estado possui uma segunda maneira de adquirir recursos, o Tesouro Direto. Este método de financiamento alternativo por parte do Governo sempre existiu, mas desde 2002, o Tesouro Nacional, juntamente com a BM&F Bovespa, redesenhou o programa.
Ela passou a garantir acesso direto aos títulos públicos, por parte também dos pequenos investidores e pessoas físicas, que agora podem comprar ativos a partir de R$ 30,00. Caso você não conheça nada sobre o tema, um título público se trata de um ativo de renda fixa que possui um valor de face pré-determinado.
Depois de certo período de tempo, pagará ao seu dono uma quantia diferente da quantia pela qual ele foi adquirido, sendo esta diferença igual a taxa de juros paga como remuneração a quem emprestou recursos financeiros ao Estado. Talvez você tenha — e com certa razão — a mentalidade de que uma dívida se trata, estritamente, de algo ruim, mas em economia isso nem sempre é válido.
É bem verdade que o Governo perde ao pagar uma quantia final maior do que a quantia inicial que ele recebeu, mas por outro lado, ganha-se em liquidez. Isso acontece não somente com o Governo, mas também com diversas empresas do mundo inteiro, como as diversas multinacionais que também se utilizam deste método — no caso, títulos privados — e de outros semelhantes para realizar investimentos e levantar capital de giro.
Dívida é estritamente ruim quando fora de controle, entretanto, quando bem administrada, pode ser algo com um saldo final positivo, tanto para quem se endividou quanto para quem financiou esta dívida. Considerada uma aplicação de baixíssimo risco, o Tesouro Direto sempre foi muito apreciado por parte do investidor brasileiro que, historicamente, trata-se de um investidor mais conservador e com certa aversão a riscos.
Somando-se a isto o fato de que o país, atualmente, figura no topo da lista de juros real do mundo, a relação risco x retorno do Tesouro Direto se encontra extremamente positiva. Não por acaso, cada vez mais popular e atrativa, tanto para residentes no país quanto para não residentes.
Está pensando em comprar títulos públicos e quer saber mais sobre o tema? Abaixo, confira por que você deve possuir um objetivo antes de começar a investir, cada um dos diferentes tipos de títulos públicos disponíveis no mercado, a importância de se escolher uma boa corretora para intermediar seus investimentos e as principais vantagens deste tipo de aplicação!
2- A importância de definir o objetivo
Se você quer garantir que algo sairá de maneira satisfatória, é imprescindível realizar um planejamento prévio. Por sua vez, se você pretende realizar um bom planejamento, será necessário que ele esteja focado no alcance de algum objetivo.
Caso seu objetivo final com o investimento seja comprar uma casa, por exemplo, este deve ser o pano de fundo de toda sua estratégia como investidor. A partir deste objetivo, você saberá quanto será preciso obter de retorno em suas aplicações.
Sabendo o retorno desejado e somando-se a isto a quantidade de dinheiro que você possui para despender a curto, médio ou longo prazo, você saberá qual tipo de título público melhor lhe atenderá e assim sucessivamente. É extremamente importante saber que, para maximizar os resultados com o Tesouro Direto, você deve possuir um prazo de investimento e uma quantia com a qual não precisará contar durante este período.
Indexadores
O tempo faz-se ainda mais relevante no caso do Tesouro Direto, pois a alíquota de Imposto de Renda e os retornos obtidos variam consideravelmente de acordo com ele. Além disso, a estratégia estabelecida também precisará levar em consideração quais são as expectativas futuras do mercado em relação à taxa de juros da economia e a inflação. Muitos títulos públicos baseiam seus rendimentos de acordo com estes indexadores e podem se tornar mais ou menos vantajosos que os demais.
3- Títulos públicos: entenda cada tipo
Quando o assunto é investimento, poucos ativos possuem uma variedade tão grande quanto os títulos públicos no que diz respeito a preço, rentabilidade, forma de remuneração, liquidez e prazos. Inclusive, um título público pode ser comprado parcialmente, tendo o comprador, como opção mínima, a aquisição de 1% do título e máxima, obviamente, de 100%.
Além disso, incide sobre estes títulos o pagamento de Imposto de Renda sobre o rendimento dos mesmos. As alíquotas começam em 22,5% para títulos com resgate inferior a 180 dias, 20% para títulos que estão entre 181 e 360 dias, 17,5% entre 361 e 720 dias e, por fim, 15% para ativos com data de vencimento superior a 720 dias. Mesmo com tanta variedade, podemos subdividir todos estes diversos títulos públicos em dois grandes grupos de ativos: títulos pré-fixados e títulos pós-fixados.
3.1- Títulos pré-fixados
Como o próprio nome já diz, o rendimento destes títulos é pré-fixado, ou seja, o investidor saberá exatamente quanto receberá por aquela aplicação desde o momento da compra do ativo — caso ele o mantenha em sua posse até a data de vencimento do mesmo. Abaixo, falaremos sobre cada um dos dois tipos de títulos pré-fixados:
3.1.1- Tesouro pré-fixado (LTN)
Esta é a forma mais simples de aquisição. Sua remuneração é previamente conhecida e paga integralmente na data de vencimento do título. Por esta razão, ele é mais indicado para investidores que possuem a certeza de que não precisarão do valor aplicado antes da data de resgate.
3.1.2- Tesouro pré-fixado com juros semestrais (NTN-F)
Este tipo de ativo se assemelha bastante ao citado acima, porém com a diferença de que o pagamento dos juros é realizado semestralmente e não somente na data de vencimento. Esta é uma boa opção para quem utiliza os rendimentos de suas aplicações no complemento de sua renda.
Mas vale ressaltar que cada recebimento pagará IR de acordo com as alíquotas divulgadas no início deste tópico e, além disso, a quantia total aplicada diminui a cada recebimento. O que, por sua vez, diminui a base de cálculo do próximo recebimento e faz com que a quantia total a ser recebida seja menor em comparação à quantia aplicada no ativo acima.
Uma vez que o juros podem ser compreendidos como o preço do dinheiro ao longo do tempo, faz total sentido receber uma quantia total menor, em troca do benefício de antecipação deste pagamento. Cabe ao investidor, segundo seu objetivo e planejamento, analisar os custos e benefícios de seu caso específico, para saber se é preferível o recebimento integral ou semestral.
3.2- Títulos pós-fixados
Apesar de possuírem renda variável, os títulos pós-fixados também podem ser considerados ativos de renda fixa. Isso acontece porque, mesmo não se sabendo o valor final a ser recebido, o indexador que será utilizado para calcular este rendimento é previamente conhecido. No caso, ou SELIC ou IPCA. Eis os três tipos de títulos disponíveis nesta modalidade:
3.2.1- Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal)
O rendimento deste título é a soma de um indexador ligado ao IPCA mais uma taxa de juros adicional pré-fixada, o que sempre garante ao comprador um ganho real na aplicação. Em outras palavras, se você, por exemplo, aplicou mil reais em um título com taxa de juros adicional de 5%, resgate para daqui um ano e a inflação do período fora de 10%, na data de resgatar o ativo, os mesmos mil terão um poder de compra igual a R$ 900 de um ano atrás.
Isso equivale a dizer que, dos R$ 1150 recebidos, R$ 100 se devem ao indexador do IPCA e R$ 50 se devem a taxa de juros pré-fixada. Por sua vez, este segundo representará o ganho real da aplicação.
3.2.2- Tesouro IPCA + com juros semestrais (NTN-B)
O rendimento deste título se comporta da mesma maneira que o NTN-B Principal citado acima. Entretanto, a diferença entre os dois está no recebimento de juros semestrais e não mais ao fim da aplicação. Vale aqui a mesma dica passada ao título pré-fixado com rendimentos semestrais: cabe ao investidor, segundo seu objetivo e planejamento, analisar os custos e benefícios de seu caso específico para saber se é preferível o recebimento integral ou semestral.
3.2.3- Tesouro SELIC (LFT)
Este ativo é o único ligado diretamente à SELIC e não possui modalidade de pagamento semestral. É altamente indicado quando a expectativa futura da economia é de aumento da taxa básica de juros, o que, consequentemente, aumentará o rendimento deste título no momento de resgate. Por fim, vale ressaltar que, no caso do investidor desejar vender qualquer um dos títulos acima antes da data de vencimento, o Tesouro Nacional pagará por eles valor igual ao valor de mercado dos mesmos no momento da venda.
4- A escolha da corretora
Antes de aplicar no Tesouro Direto, um investidor deverá possuir uma conta em alguma instituição financeira autorizada a realizar movimentações neste mercado. O primeiro ponto relevante que deve ser analisado ao se escolher onde investir é a taxa de administração cobrada por cada instituição.
Automaticamente, isso excluirá os bancos da lista, pois estes, sem exceção, cobram taxas 4 ou 5 vezes maiores do que as corretoras. Entretanto, a menor taxa não significa o menor custo operacional para você e, consequentemente, os maiores retornos.
Como serão necessárias transferências bancárias a cada ordem de compra, caso a corretora escolhida possua um banco diferente do seu, os custos com a transferência deste dinheiro também deverão ser levados em conta. Além destes custos, também será preciso ter ciência de que algumas instituições cobram pequenas taxas administrativas, mas possuem taxas mensais e taxas de resgate enquanto outras não.
Além disso, outros pontos relevantes a serem analisados dizem respeito à possibilidade de programação de investimentos automáticos ou de repasse de recursos para sua conta no mesmo dia, por exemplo. Pois estes podem ser aspectos muito relevantes para certos perfis de investidores e que não são oferecidos por todas as corretoras.
Por fim, um último ponto indispensável a ser analisado no momento desta escolha, diz respeito à idoneidade da corretora e à segurança operacional oferecida pela mesma. Neste segundo aspecto, o tamanho da corretora é diretamente proporcional à segurança oferecida por ela e inversamente proporcional ao risco da mesma quebrar e lhe deixar na mão. Já sobre a idoneidade de uma corretora, um bom indicador é o ranking por número de compras, que pode ser conferido ao final deste link.
5- 6 vantagens do Tesouro Direto
Não por mera coincidência, Tesouro Direto se encontra em alta e com muita popularidade no mercado. Este ativo de renda fixa possui diversas vantagens frente aos outros investimentos. Eis algumas de suas principais vantagens:
- Acessibilidade: com a possibilidade de se comprar uma fração de um título, este tipo de ativo possui fácil acesso, até mesmo para pequenos investidores que, a partir de R$ 30, podem começar a investir.
- Diversificação: uma técnica muito utilizada por investidores para reduzir o risco de perdas substanciais de dinheiro é a diversificação de investimentos. Dada a variedade de títulos apresentadas acima, a possibilidade de diversificação interna deste ativo também é outro de seus pontos fortes.
- Risco x Retorno: o risco de calote do Tesouro Direto é extremamente baixo, pois este possui garantia do Governo Federal Brasileiro. Por outro lado, o retorno do mesmo se encontra em alta devido à alta da SELIC, conferindo a este ativo um excelente risco x retorno.
- Liquidez: emergências inevitavelmente acontecem e, por vezes, o investidor é obrigado a resgatar o dinheiro aplicado. Uma vez que o Tesouro Direto garante a recompra de seus títulos diariamente, este não é um problema deste ativo e mais uma de suas vantagens.
- Vantagem tributária: outros ativos de renda fixa possuem um mecanismo chamado de “come cotas”, o qual recolhe impostos semestralmente de determinada aplicação e diminui sua base de cálculo de rendimentos futuros. Com a exceção dos títulos públicos com pagamento de juros semestrais — mas estes não pelo “come cotas”, mas sim pelo método de pagamento dos rendimentos —, isto não acontece no Tesouro Direto.
- Facilidade de acompanhamento e manutenção: desde a reformulação do programa em 2002, acompanhar seus investimentos, resgatar juros, agendar vendas, compras ou programar reinvestimentos automáticos ficou simples, fácil e rápido.
6- Conclusão
No ano de 2015, a poupança sofreu saque recorde de R$ 53,57 bilhões, maior da história desde que o Banco Central passou a calcular e divulgar o índice, em 1995. Este fato apenas comprovou algo que já era público e notório: o rendimento na poupança, atualmente, não repõe sequer o poder de compra perdido para a inflação. O que significa um ganho nominal, mas perda real de valor de seu dinheiro.
Esta aplicação sempre foi um hábito do brasileiro por possuir um perfil mais tradicional e conservador. Mas diante do atual cenário, cada vez mais pessoas são levadas a descobrir que existem outras opções no mercado que conseguem, sem abrir mão do baixo risco de perdas, oferecerem rendimentos superiores à poupança. Por fim, como mostramos acima, podemos concluir que o Tesouro Direto, independente de seu perfil de investidor, é uma excelente opção e que deve, ao menos, ser cogitada em sua carteira de investimentos!